A rotina de Valentina Brito dificilmente lembraria a de uma criança comum. Aos 12 anos, a atleta do Clube Recreio da Juventude já treina todos os dias da semana, encara campeonatos nacionais e organiza sozinha a mala para viagens de torneios. Mas o que mais impressiona não é a agenda cheia nem a coleção de medalhas. É a cabeça: madura, focada e apaixonada por um esporte que a acompanha desde a infância.
“Ela é muito responsável. Planeja as viagens, calcula os gastos, organiza tudo sozinha. É meu orgulho”, conta o pai, que costuma acompanhar a filha em campeonatos, mas reconhece: “Hoje ela prefere viajar com os professores e amigos da equipe. Está crescendo.”
Valentina começou a bater bola aos 5 anos, com uma raquete de presente de aniversário. Aos 8, chegou ao Recreio da Juventude e ali deslanchou. Atualmente, é um dos nomes mais promissores da base do tênis do clube e se prepara para grandes desafios, como a Brasil Juniors Cup e o Banana Bowl, dois dos principais torneios juvenis da América do Sul. “O meu sonho é jogar Wimbledon”, diz, com a mesma naturalidade com que fala sobre os treinos, o carinho das amigas na escola ou as sessões de fisioterapia para evitar lesões.
A rotina, porém, não é leve. Os treinos diários exigem preparo físico, mental e equilíbrio com os estudos. “Conciliar a escola com os torneios é muito difícil. Às vezes, preciso fazer várias provas no mesmo dia quando volto de viagem. Mas eu dou um jeito”, explica. Mesmo tão nova, ela já sente na pele o desafio que muitos atletas enfrentam: a falta de apoio de instituições de ensino. “Ela não está viajando a passeio. Está representando o clube, a cidade, e investindo em uma formação que vai além da sala de aula”, reforça o pai.
Além de talento, Valentina demonstra resiliência. Em quadra, já enfrentou adversárias de alto nível, muitas delas, suas amigas, e admite que nem sempre é fácil separar o lado emocional da competição. “Tem dias em que a gente tenta de tudo, e nada dá certo. Já saí chorando da quadra. Mas também já perdi jogando bem, e isso também é importante”, conta. A sua dupla mais frequente, a curitibana Clara Wirbiski, virou também amiga próxima. Juntas, elas enfrentam rivais e constroem laços que ultrapassam as linhas do saibro.
A estrutura do Recreio da Juventude, onde Valentina treina atualmente sob a supervisão de técnicos como Alexsander Lopes, Leonardo Ferronatto, Felipe Santos e Ronaldo Nitschke tem sido fundamental em sua evolução. “Aqui, a formação técnica é outra. Desde que ela chegou ao clube, deu um salto enorme. O trabalho dos professores foi essencial”, reconhece o pai.
Com personalidade forte e senso de responsabilidade raro para a idade, Valentina equilibra treinos, estudos e até momentos de lazer com gosto: gosta de ver filmes, especialmente a saga Harry Potter, nadar e pintar nas horas vagas. Mas seu lugar preferido, ela não tem dúvida: é dentro de quadra, com a raquete na mão, sonhando com o futuro.