Nem todo grande atleta começa em um ginásio. Algumas histórias nascem em lugares improváveis, como o quintal de casa, com galhos de árvores, colchões improvisados e vídeos do YouTube. Esse é o começo da trajetória de Jovana Anschau Rambo, de 10 anos, moradora do interior de Caxias do Sul, e hoje uma das principais promessas da ginástica artística do Clube Recreio da Juventude.

 

O interesse de Jovana surgiu aos poucos, ao ver uma colega fazendo uma “estrelinha” na escola. A facilidade com que conseguiu repetir o movimento despertou algo especial. “A partir desse momento comecei a tentar fazer cada vez mais coisas”, conta. Inspirada por nomes como Rebeca Andrade, Daiane dos Santos e Simone Biles, ela montou seu próprio “centro de treinamento”: usava o galho de um pé de canela como barra, fazia espacato na grama e treinava mortais sobre um colchão.

 

Foi só quando olhou para a mãe com os olhos cheios de lágrimas e disse que, se não encontrasse um lugar para treinar, seu sonho iria acabar, que a família entendeu a força daquilo tudo. A resposta veio rápido: em outubro de 2024, Jovana fez um teste no Recreio da Juventude, passou e logo competiu. Já em novembro, representava o clube em torneios estaduais.

 

Desde então, sua vida se transformou. “Passei a acreditar ainda mais que poderia ser uma ginasta profissional, com o apoio do professor Rogério e da Profe Paula”, afirma. O que ela mais gosta? “Aprender movimentos novos e melhorar os que já sei. O meu preferido é a sequência de rodante, flic e mortal no solo.”

 

A mãe, Elisete Anschau Rambo, acompanha de perto. “Ela evoluiu muito como atleta e como pessoa. Está mais organizada, mais feliz, mais dedicada. O clube representa acolhimento e parceria, ela se sente em casa”, diz.

 

Já o técnico Rogério Innocenti, ex-atleta da seleção brasileira, viu potencial à primeira vista, mesmo que à distância. “Recebi vídeos da Jovana treinando sozinha no quintal, com movimentos de alta complexidade. Quando a vi ao vivo, identifiquei traços raros: força, flexibilidade, coordenação e, principalmente, brilho nos olhos.” Segundo ele, o clube foi fundamental: “Confiaram na minha palavra e deram a ela acesso a uma das melhores estruturas do estado.”

 

O caminho, no entanto, está só começando. “Vamos colocá-la em várias competições este ano para ganhar experiência. O talento existe, mas o trabalho é contínuo. Nosso sonho é que ela, no futuro, possa vestir o uniforme da seleção brasileira”, projeta Rogério.

 

Jovana sabe que o desafio é grande, mas a vontade é maior. “Fico muito feliz com tudo o que está acontecendo. E quero dizer para outras meninas que também têm um sonho: nunca desistam. Treinem muito e acreditem.”